sexta-feira, 30 de dezembro de 2011


Entrevista com
Elisabete Teixeira e Sandra Martins


Fórmula do sucesso nos trabalhos académicos feitos em grupo


POR MADALENA SILVA


Conversámos com Elisabete Teixeira e Sandra Martins, duas colegas de Curso e amigas de longa data. Se é daqueles que não gosta muito de fazer trabalhos académicos em grupo, por um motivo ou outro, conheça estas duas jovens que partilham connosco a fórmula do sucesso nesse campo. Mas antes disso, conheçamos um pouco mais sobre cada uma delas.


Elisabete Teixeira à direita e Sandra Martins à esquerda
Elisabete Teixeira nasceu a 29 de março de 1989 e tem 22 anos. É natural de Vila Real, mas já viveu em muitos sítios: Albufeira, Fonteita e Mosteirô (Vila Real), no território nacional, e em França. Agora, divide-se entre Vila Real e o Porto, por motivos profissionais, pois está prestes a começar o estágio curricular do Mestrado. Mas partilha que também o faz por motivos pessoais, já que o namorado está lá atualmente a estudar.

Sandra Martins é só dois anos mais velha, tendo nascido a 24 de maio de 1987, na Suíça (parte alemã), mais propriamente em Frauenfeld. Morou e estudou nesse país até aos 12 anos e, em 1999, veio com os pais e o irmão mais novo para Portugal. Apesar de respeitar a decisão dos pais, confessa que a adaptação lhe custou um pouco, mas acabou por adaptar-se a Vila Real e agora “adora a cidade”. Não é casada, mas está noiva e por isso muito feliz, confessa.


Como se conheceram

Observando (O) – Fizeram uma parte do Secundário juntas. Há quanto tempo se conhecem exatamente?

Elisabete Teixeira (ET) – Conhecemo-nos há cerca de sete anos, mas no início éramos apenas conhecidas por causa de uma amiga – uma prima minha – que tínhamos em comum, mas era apenas um “olá” e “está tudo bem?”. Penso que no início a Sandra até “não ia com a minha cara”; chegou a dizer-me que me achava convencida (risos) e agora não me larga (risos).

Sandra Martins (SM) – Eu estudei na Suíça até ao 5.º ano, inclusive. Nós só nos conhecemos no 10.º ano, quando fomos estudar para a mesma escola. Por isso, conhecemo-nos há sete anos, mais ou menos. No Secundário, não nos podíamos considerar amigas; éramos colegas de escola. Começámos a ser amigas no 12.º ano, com a viagem de finalistas. Como éramos da mesma escola e a Elisabete era prima de uma grande amiga minha que também foi nessa viagem, acabámos por andar mais juntas. Depois, com a entrada na Universidade, aproximámo-nos ainda mais. Era um mundo novo e só nos conhecíamos e tínhamos uma à outra.

O – Como descrevem o vosso relacionamento?

ET – Encontrei uma amiga verdadeira e sincera que me sabe dizer quando estou a agir bem, mas também quando estou a agir mal. Diz-me as coisas na cara, quer eu goste ou não, mas que são verdadeiras. No início, nunca pensei que fosse resultar numa amizade tão forte: estamos sempre dispostas a ajudarmo-nos uma à outra. Praticamente, sabemos a vida toda uma da outra; as coisas boas e as coisas más. Partilhamos muitos momentos das nossas vidas. E posso dizer que ela já esteve presente em momentos difíceis da minha vida, e aí eu vi a verdadeira amiga que tinha ao meu lado.

SM – Acho que o nosso relacionalmente é um relacionamento normal entre duas amigas. As amigas são assim; querem estar juntas e ajudar-se. Acho que não somos mais do que ninguém. A amizade é isso mesmo: entreajuda.


Juntas na Licenciatura e no Mestrado

O – Por que decidiram licenciar-se ambas em Ciências da Comunicação, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD)?

ET – Foi mesmo coincidência. Ciências da Comunicação nem foi a minha primeira opção, mas quando soubemos que estávamos no mesmo Curso foi muito bom, porque estávamos completamente sozinhas num mundo totalmente novo e então unimo-nos. Acho que isso ditou o rumo da nossa amizade.

SM – Foi por acaso. Eu não fazia ideia que a Elisabete tinha colocado o Curso de Ciências da Comunicação, nas suas opções. Eu sempre quis este Curso, mas ela queria Direito e por isso nunca pensei que nos íamos encontrar.

O – Estão no 2.º ano do Mestrado em Ciências da Comunicação – Jornalismo, na UTAD. Porquê este Mestrado e novamente as duas?

ET – Mais uma vez, não fizemos a opção juntas. Eu concorri para Mestrado para Braga e tentei a todo o custo entrar no Porto. Já a Sandra sempre quis ficar em Vila Real. Como não consegui entrar onde queria, voltámos a ficar juntas por acaso. Está destinado (risos)!

SM – Quando escolhi este Curso, o que realmente me interessava era a vertente de Publicidade e Relações Públicas. Porém, uma vez, uma professora disse: "Existem pessoas nesta sala que vão desistir de ser jornalistas e existem outros que vão apaixonar-se por esta profissão", e foi o que aconteceu comigo. Apaixonei-me pelo Jornalismo. Por isso, optei por fazer o Mestrado, na UTAD, pois não queria sair de Vila Real. A Elisabete concorreu para Braga, porém, só na segunda fase, o que fez com que já não houvesse vagas. Assim, o destino juntou-nos de novo.

O – Conseguem realizar trabalhos de grupo, de forma contínua, para o Mestrado, alcançando o sucesso em termos de coesão de equipa e resultados. Qual é o segredo?

ET – Acho que como já fazemos trabalhos de grupo juntas há muitos anos, fomo-nos adaptando uma à outra. Cedemos ou não nos importamos de simplesmente fazer a vontade à outra. Mas também damo-nos bem no trabalho, porque nos damos muito bem como amigas e, como já nos conhecemos muito bem, sabemos o ritmo de trabalho de cada uma, a forma como trabalha, os gostos, a área para a qual tem mais “queda” e então torna-se tudo muito mais fácil. Aliás, nós conseguimos fazer trabalhos à distância, mesmo estando em cidades diferentes, e no fim o resultado é ótimo. Acho que somos bastante organizadas, responsáveis e tanto uma como a outra não gosta de fazer as coisas à última da hora, em cima do joelho. Já conhecemos bem o feitio uma da outra e gostamos de trabalhar juntas e isso é essencial: gostar de trabalhar com o elemento do nosso grupo.

SM – O segredo é que não temos segredo. Encaixamo-nos; não sei porquê. Deve ter a ver com os nossos feitios. Existem alturas em que concordamos a 100% e outras vezes não concordamos de todo. Mas quando isto acontece, alguém tem de ceder, por vezes, cedo eu; outras vezes, cede a Elisabete.

O – Também acontecia quando ambas tiravam a Licenciatura em Ciências da Comunicação, na UTAD?

ET – Sim, trabalhámos juntas desde o primeiro trabalho de grupo e desde então nunca mais nos largámos (risos). Mesmo para as frequências, estudávamos muitas vezes juntas. Lembro-me que chegámos a “estudar” pelo Messenger para tirar dúvidas. Na Licenciatura, éramos um grupo de seis e também sempre nos demos bem; só não fazíamos os trabalhos todas juntas quando não dava mesmo. Acho que o segredo é mesmo a forte amizade que nos une: não há hipocrisia, falsidade, interesse, egoísmo ou inveja. O que nos une é verdadeiro e puro; considero-as minhas irmãs. Parece que as conheço desde sempre; que sempre fizeram parte da minha vida. Até as conhecer na Universidade, nunca tinha tido uma amizade assim.

SM – Sim, com uma diferença: na Licenciatura, não éramos só as duas; éramos seis. Fazíamos tudo juntas: estudar, trabalhar e por vezes só conversar e passar o tempo. Éramos muito unidas, o que fez com que quando nos separámos eu e a Elisabete nos juntássemos mais. No Mestrado, só nos temos uma à outra, tal como aconteceu quando entrámos na Universidade.

O – Qual é a mais persistente nas suas ideias, quando trabalham em grupo?

ET – Acho que sou eu. Não é bem ser persistente; é mais ter dias em que sou muito teimosa e refilona, mas a Sandra já me conhece bem e quando é assim não “me dá pano para mangas”, como se costuma dizer (risos), senão iríamos discutir muitas vezes, o que não acontece. Entendemo-nos perfeitamente.

SM – Tem dias. Por vezes, sou eu; por vezes, é a Elisabete. Quando sou eu, a Elisabete cede. Quando é ela, eu cedo (sorriso).

O – Conseguem sempre ultrapassar as vossas diferenças, em prol do sucesso do trabalho e da vossa amizade?

ET – Sim, e acho que é mais em prol da nossa amizade. Fazer trabalhos de grupo com a Sandra não é uma obrigação ou desagradável. Adoro fazer trabalhos com ela; é sempre uma animação. Mas claro, sabemos quando é tempo para trabalhar e quando é tempo para brincar, mas regra geral unimos sempre estes dois ingredientes e as coisas saem sempre bem. Vou sentir saudades de trabalhar com ela.

SM – Até agora sim e ainda bem.

O – Quais são as vossas expectativas em termos de mercado de trabalho, depois de terminarem o Mestrado?

ET – Aproxima-se um estágio no Porto. Por isso, vou mantendo a esperança de conseguir ficar a trabalhar na área. Ao contrário da Sandra que está muito ligada à família e à cidade, não me custa tentar procurar trabalho na área noutras cidades, tanto que já fiz estágios de longa duração em Braga e no Porto. Não irei desistir nem desanimar, mas se não conseguir uma coisa é certa: irei trabalhar para onde houver trabalho, mesmo que seja num café outra vez.

SM – Infelizmente, não são muitas. Vivemos num mercado sobrelotado. O meu problema é que eu sou uma pessoa mesmo muito ligada à família e, ao contrário dos meus pais que deixaram a família para irem trabalhar para outro país, eu era incapaz de o fazer. E até a ideia de ir para outra cidade é muito complicada. Por isso, o meu futuro é um pouco incerto.


Trabalhadoras-estudantes

O – Para além do Mestrado, têm um emprego ou só estudam?

ET – Vou tendo vários ‘part-times’. Já trabalhei num café, num restaurante e faço promoções. Aproveito todas as oportunidades de trabalho que consigo encontrar para ajudar a pagar os estudos.

SM – Para além de estudar, trabalho na Fundação Casa de Mateus, como guia turística de Inglês, Alemão e Português. Todavia, só na época da primavera e verão, ou seja, na época alta do turismo.

O – Onde já trabalharam e quais as vossas funções?

ET – Comecei a trabalhar quando entrei na Universidade, como Promotora nos hipermercados. Entretanto, de há 2 anos para cá, tenho-me desdobrado entre vários empregos. No café, trabalhei como empregada de balcão; no restaurante onde trabalhei durante as férias de verão, fui empregada de mesa, mas também de vez em quando ajudava na cozinha. Atualmente, faço promoções de diferentes produtos nos hipermercados.

SM – O meu primeiro e único trabalho foi realmente na Fundação Casa de Mateus. Estou lá desde 2009. Apesar de ser um trabalho muito desgastante, pois nem sempre estamos felizes e com vontade de sorrir, é muito gratificante. Adoro quando me dizem que gostaram da visita e que tenho muito jeito. Aí, percebo que vale a pena. E é muito bom conhecer pessoas de outros países e de outras culturas.

O – Os vossos pais ainda custeiam as vossas despesas mensais ou já conseguem ser financeiramente independentes?

ET – Eu ainda não consigo ser financeiramente independente dos meus pais. Ainda vivo em casa deles e o que ganho é para as minhas coisas do dia a dia, porque os empregos são de curta duração e o que ganho não chega para tudo.

SM – Apesar de só trabalhar uma parte do ano, consigo poupar e assim "sustentar-me" durante o resto do ano, mas sem excessos. Mas como vivo com os meus pais, eles acabam sempre por me ajudar e pagar algumas despesas mais elevadas.


Fora da UTAD

O – Para além dos trabalhos de grupo para o Mestrado, o que costumam fazer juntas, fora da UTAD?

ET – Tudo. Sabemos quase tudo da vida uma da outra. Combinamos almoços, jantares, passeios e compras de mulheres (risos). Estamos sempre a par dos problemas uma da outra. Pedimos ajuda, opiniões e conselhos uma à outra.

SM – Tudo o que duas amigas normais fazem. Falar sobre as nossas vidas, problemas, sonhos, dúvidas... Ir às compras, passear, lanchar, estudar...

O – O que gostam de fazer nos tempos livres?

ET – Agora, o tempo livre é pouco. Por isso, aproveito-o para estar com o meu namorado, a minha família e as minhas amigas. Há dias em que prefiro estar sossegada em casa a descansar e a ver um bom filme.

SM – Eu adoro estar com os meus amigos, família e namorado. São estas as pessoas que me entendem e me fazem felizes. Adoro cinema, passear, surfar na Internet, ouvir música...

O – Que tipo de leitura gostam de fazer?

ET – Romances, sem dúvida. Mas ultimamente não me tenho dedicado muito à leitura.

SM – Neste momento, como o tempo é escasso, costumo ler mais os jornais online e um ou outro artigo que me interessem. Já há algum tempo que tenho um livro na cabeceira, mas ainda não o consegui acabar de ler: “Animal Farm”.

O – Qual é o tipo de música que gostam de escutar?

ET – De tudo um pouco e conforme o estado de espírito. Há dias em que prefiro músicas animadas, cheias de ritmo e outros em que prefiro músicas calminhas.

SM – Na música, não sou esquisita. Adoro tudo, desde a clássica, ao pop, ao rock...

O – A que tipo de filme gostam de assistir?

ET – Todo o tipo de filme que me faça rir, desde filmes de desenhos animados até às comédias românticas.

SM – Gosto muito de cinema. É provavelmente onde gasto mais dinheiro. Gosto de ver as últimas novidades, mas sobretudo filmes cómicos e comédias românticas.

O – Têm algum programa televisivo favorito?

ET – Séries. Adoro todo o tipo de séries como “C.S.I”, “Doctor House” ou “Anatomia de Grey”.

SM – Não. Vejo de tudo um pouco.

O – Qual foi o melhor momento da vossa vida?

ET – Não sei dizer qual foi o melhor momento da minha vida, mas sei dizer quais são os meus melhores momentos: quando oiço um “amo-te” sincero e puro da pessoa que amo; quando me reencontro com as minhas amigas, uma vez que agora estamos todas separadas; quando proporciono momentos felizes e recebo um simples sorriso ou uma gargalhada dos meus pais e do meu irmão; quando conheço sítios que quero conhecer com o meu namorado; quando simplesmente sinto que sou verdadeiramente amada pelas pessoas que me rodeiam e que são importantes para mim.

SM – Não posso escolher o melhor momento, pois já tive vários. Sou uma pessoa que valoriza muito os momentos e por isso acabo por ter muito bons momentos. Sou feliz quando oiço uma música; quando vejo uma fotografia; quando estou com os meus.

O – E o momento mais triste?

ET – Como toda a gente, tenho os meus problemas e classifico-os como graves de acordo com a minha vivência. Por isso, para mim os momentos que me marcaram como sendo os mais tristes foram a depressão da minha mãe há muitos anos e o divórcio dos meus pais. Também quando o meu grupo de amigas se separou todo quando cada uma seguiu para Mestrado. E ainda quando o meu namorado foi estudar para o Porto e ficámos pela primeira vez mais do que uma semana sem nos vermos...

SM – Também já tive vários, mas os mais tristes é quando algum dos meus está doente ou tem de partir. Sofro muito, pois sou muito ligada a eles.

O – O que mais apreciam numa pessoa?

ET – A responsabilidade e que tenha objetivos de vida. Aprecio pessoas que saibam dar valor às coisas e que saibam lutar pela vida. Gosto de pessoas de uma palavra só, sinceras e fiéis. E claro, gosto de pessoas que saibam brincar; sejam animadas e otimistas e que saibam proporcionar bons momentos; que saibam dizer a coisa certa na altura certa.

SM – O sentido de humor. Gosto de pessoas que me façam rir e consequentemente me façam felizes. Só essas valem a pena, pois marcam.

O – E o que menos apreciam?

ET – Não gosto de pessoas fúteis, “ocas” e que andem no mundo por verem andar os outros. Não gosto de pessoas invejosas, egoístas e sobretudo mimadas que não sabem dar valor ao que têm.

SM – A irresponsabilidade… Detesto.

O – Como se descrevem a si próprias?

ET – Não sei mesmo… Acho que sou um pouco de tudo e conforme a pessoa com quem estou. Sei ser amável, atenciosa, carinhosa, divertida e animada. Sei ser responsável quando tenho de ser, mas também sei aproveitar os momentos e divertir‑me ao máximo sem me preocupar com o que os outros pensam. Aliás, más‑línguas não me preocupam minimamente. Só oiço e me preocupo com as opiniões das pessoas que me querem bem. Sei ser uma boa amiga, uma boa filha, uma boa irmã e uma boa namorada. Mas também erro como toda a gente. Tenho os meus defeitos como toda a gente. Reconheço que às vezes deveria dar mais atenção a quem merece, ser menos refilona, menos teimosa e deixar de ser tanto de ideias fixas que às vezes me impede de ouvir as pessoas que têm razão. Sou muito sentimentalista, o que por vezes é muito mau, pois penso às vezes mais com o coração do que com a cabeça. O meu maior defeito é ser muito impulsiva, o que me leva a dizer e fazer coisas que não quero e que magoam as pessoas que me amam.

SM – Sou uma pessoa como as outras, que só quer ser feliz com os que mais ama. Sou simples, humilde, sonhadora, responsável, sensível, amiga e infelizmente orgulhosa e teimosa.

O – São felizes?

ET – Agora sim. Mas já passei por momentos complicados. Mas tanto estamos bem num dia como no dia a seguir já estamos mal. Mas neste momento, sim, sou feliz. Tenho as pessoas que amo ao meu lado; não tenho ninguém da família doente nem a passar mal.

SM – Eu sou feliz, porque quero sê-lo. Para sermos felizes, só temos de nos valorizar a nós próprios e a quem nos rodeia. Tenho 24 anos, uma família maravilhosa, um namorado fantástico, uns amigos espetaculares, uma Licenciatura na área que adoro, um bom emprego e muitos sonhos. O que preciso mais?
Entrevista com
Jorge Dinis 


Jorge Dinis: “Sempre tive vontade de exercer uma atividade ligada às Forças de Segurança ou Forças Armadas"

POR MADALENA SILVA



Jorge Dinis

Estivemos à conversa com Jorge Dinis, um Agente da Polícia de Segurança Pública (PSP) e Mestrando do último ano de Ciências da Comunicação – Relações Públicas e Publicidade. Nasceu a 18 de abril de 1968. É natural da Freguesia de Bornes de Aguiar, Concelho de Vila Pouca de Aguiar. Foi educado com os pais e a irmã. É casado, tem duas filhas e reside presentemente em Vila Real. Ao longo da vida, teve várias profissões, tendo logo aos 17 anos sido rececionista de hotel. Dos 18 aos 21 anos, cumpriu o serviço militar ao serviço do Corpo de Tropas Paraquedistas. Ingressou na PSP, aos 22 anos, onde se mantém até à presente data. Foi inicialmente colocado em Lisboa, de 1990 a 1999. De seguida, foi colocado em Vila Real e lá permanece até hoje. 

Observando (O) – Por que decidiu licenciar-se em Ciências da Comunicação?
Jorge Dinis (JD) – Já tinha tido uma experiência académica de três anos no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), onde frequentei o Curso de Sociologia, o qual não concluí por razões familiares. Como tinha gostado da vida académica, resolvi candidatar-me à Licenciatura em Ciências da Comunicação, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Porquê? Achei que poderia ajudar-me no exercício da minha atividade profissional e acrescentar algo à minha vida pessoal.  


Ser agente da PSP

O – Atualmente, é agente da PSP, em Vila Real. A que Unidade de Polícia pertence?
JD – Estou colocado na Esquadra de Intervenção e Fiscalização Policial – Equipa de Fiscalização Policial. 

O – O que o levou a abraçar esta profissão?
JD – Sempre tive vontade de exercer uma atividade que de alguma forma estivesse ligada às Forças de Segurança ou Forças Armadas. Como estive quatro anos ligado às Forças Armadas e gostei muito, resolvi candidatar-me à PSP.

O – Quais são as suas funções?
JD – Quase toda a minha vida profissional se desenvolveu na área da investigação criminal, contudo, desde 2009, as minhas funções passam pela atividade inspetiva nas áreas das Armas e Explosivos, Segurança Privada, Estabelecimentos e Ambiente. 

O – Que tipo de formação obteve para desempenhar as suas funções, na PSP?
JD – Inicialmente, fiz o Curso de Formação de Agentes, como todos os elementos. E posteriormente, ao longo da minha carreira, frequentei internamente vários cursos como, por exemplo, os Cursos de Investigação Criminal; Trânsito; Ordem Pública; Fiscalização da Atividade de Segurança Privada; Segurança Privada, entre outros.

O – Como se sente ao saber que carrega uma arma de fogo, durante o trabalho?
JD – Atualmente, já nem lhe atribuo um grande significado, porque ao longo dos anos fui-me habituando e agora faz parte de mim, tal como a Carteira Profissional. No início da minha carreira, foi um bocadinho complicado, porque uma arma implica mais responsabilidade, já que o porte da mesma dá-nos segurança, mas também torna o agente responsável pela sua manutenção e uso, sendo o seu uso uma situação muito complicada, tanto emocional como juridicamente.

O – Já foi forçado a disparar para deter alguém ou em legítima defesa?
JD – Já e por mais de uma vez, mas não posso entrar em pormenores por razões éticas. 

O – Sente que a população em geral respeita a Autoridade, nomeadamente os agentes da PSP?
JD – Sinto que uma fatia da população respeita a Autoridade, concretamente as pessoas mais velhas. Mas o respeito é uma conquista dos Profissionais de Polícia, que deve ser da responsabilidade de cada um, ou seja, cada um à sua maneira é que deve conquistar esse respeito. No meu caso, não me lembro de alguém me ter faltado ao respeito. Se tal acontecer, existem mecanismos policiais e jurídicos para impor esse respeito. 

O – Pode descrever como decorre um dia de trabalho mais calmo? E um mais agitado?
JD – Os meus dias de trabalho resumem-se à atividade inspetiva e burocrática. Como tal, não é representativo da atividade mais operacional da PSP. Mas dentro das funções que exerço, poderei considerar os mais agitados aqueles em que estou empenhado nas fiscalizações e os mais calmos aqueles em que estou no interior das instalações policiais a elaborar expediente e outros assuntos de caráter burocrático.  

O – Há agentes especializados dentro da Unidade de Polícia à qual pertence para casos concretos ou todos trabalham com todo o tipo de caso?
JD – A minha Esquadra apenas trabalha nas áreas da intervenção policial e fiscalização, sendo que a primeira se dedica à ordem pública e a segunda onde pertenço trabalha na área da fiscalização de Armas e Explosivos, Segurança Privada, Estabelecimentos e Ambiente. Mas a Polícia, por exigência das suas competências, tem os seus quadros divididos pelas mais diversas áreas de intervenção, como por exemplo, o Trânsito, a Investigação Criminal, a Segurança de Altas Entidades, o Corpo de Intervenção, entre outras. Referi apenas quatro, no entanto, tem muitas mais, o que implica cada vez mais uma maior especialização e afetação dos seus elementos a uma determinada área de ação.

O – Pode partilhar connosco qual foi o caso, sem entrar em pormenores, que mais o marcou em todo o seu percurso profissional, na PSP?
JD – Foi uma situação de um furto no interior de uma residência em Lisboa, onde tive de recorrer à arma de fogo, como resposta ao assaltante e de onde um colega saiu ferido.

O – Quais são os casos a tratar mais frequentes, na PSP?
JD – Situações de trânsito, manutenção da ordem pública, violência doméstica, entre outros.

O – Gosta da sua profissão?
JD – Gosto, no entanto, penso que, por ação daqueles que nos governaram, está presentemente a ficar desprestigiada e muito mal renumerada. Daí, haver alguma insatisfação. 

O – Aconselharia possíveis interessados a candidatar-se a um posto de trabalho na PSP?
JD – Aconselho a todos aqueles que queiram ser realmente profissionais de Polícia.  

O – Que requisitos deve ter um bom profissional da PSP?
JD – Deve ter uma noção muito realista da sociedade em que intervém e compreendê‑la. Depois, deve reger-se pelos princípios básicos da vida: isenção, imparcialidade, idoneidade, patriotismo, lealdade, entre outros.  

O – É uma profissão desgastante física e psicologicamente?
JD – Sim, no entanto, dentro da atividade policial, há serviços onde esses aspetos são mais relevantes do que noutros. Os serviços operacionais são muito mais exigentes, porque implica o contacto direto com as situações.

O – É difícil chegar a casa, no final de um dia de trabalho intenso, e não poder partilhar com aqueles que coabita situações que tenham ocorrido durante o dia, no âmbito do seu trabalho?
JD – Para mim, não, porque desde que iniciei a minha atividade profissional que me mentalizei que as questões profissionais ficam no serviço e não me tenho dado mal com esta opção. 

O – Pode partilhar como lida com situações que, na sua opinião, poderiam ter sido tratadas de uma forma mais adequada?
JD – Cada situação é única. Por isso, temos que adotar as medidas, sempre dentro dos princípios legais, mais convenientes a cada situação em concreto. 

O – De entre todas as tarefas inerentes à sua profissão, qual é a que mais lhe agrada? E a que menos lhe agrada?
JD – Gosto do que faço, mas sinto-me mais realizado a desempenhar tarefas no âmbito da investigação criminal, como fiz até 2008. Presentemente, não me sinto tão realizado na atividade inspetiva por implicar a aplicação de coimas. 

O – Qual foi a situação mais agradável que viveu até hoje no seu local de trabalho? E a menos agradável?
JD – As situações mais agradáveis que vivi foram aquelas em que o meu trabalho foi reconhecido e felizmente já foram algumas, tanto por parte dos meus colegas e superiores hierárquicos como por parte dos cidadãos. As menos agradáveis foram aquelas em que vi determinados criminosos saírem impunes dos Tribunais, quer pelo facto de a responsabilidade ter sido da Polícia ou da Justiça. 


Mestrado e projetos futuros

O – Está a frequentar o 2.º ano do Mestrado em Ciências da Comunicação – Relações Públicas e Publicidade. Por que decidiu tirar este Curso?
JD – Queria acrescentar algo mais à Licenciatura e também porque queria adquirir mais conhecimentos na área das Relações Públicas.

O – Quais são os seus projetos para o futuro, em termos profissionais, depois de concluir o Mestrado?
JD – Tenho alguns projetos, no entanto, têm-se esfumado, devido ao estado do país e a outros fatores internos dentro da Instituição que sirvo.


“Benfica até que a morte me leve”

O – O que gosta de fazer nos seus tempos livres?
JD – Gosto de estar com a família, praticar desporto (andar de bicicleta e jogar futebol), caminhar pelas montanhas e pescar.

O – Que tipo de leitura gosta de fazer?
JD – Não gosto muito de ler. Gosto mais de conviver com as pessoas e desenvolver atividades ao ar livre. Contudo, quando leio, as minhas opções são Miguel Torga, Moita Flores, Saramago e alguns jornais como “A Bola”, “Expresso” e “Sol”.

O – Qual é o tipo de música que gosta de escutar?
JD – Pink Floyd, Beatles, Led Zeppelin, U2, Seal, Amália, Marisa, Ana Moura, Beethoven, Strauss, entre outros. 

O – A que tipo de filme gosta de assistir?
JD – Comédias, ação e ficção.   

O – Tem algum programa televisivo favorito?
JD – Todos que estejam ligados a atividades desportivas, informação e reportagens sobre a vida selvagem como, por exemplo, as da “National Geographic”.

O – Tem algum atleta preferido?
JD – Carlos Lopes e Rosa Mota, pela sua determinação; Eusébio, pela sua qualidade enquanto futebolista e pelo ser humano que é; a minha filha Catarina, que é Campeã Distrital e Regional de Trampolim, Mini-trampolim e Duplo-mini-trampolim.  

O – É simpatizante de algum clube desportivo?
JD – Do Benfica, até que a morte me leve.

O – Qual foi o melhor momento da sua vida?
JD – O nascimento das minhas duas filhas.

O – E o momento mais triste da sua vida?
JD – Foi quando perdi os meus pais. E também um amigo, o que infelizmente ocorreu muito recentemente.

O – O que mais aprecia numa pessoa?
JD – A sua sinceridade e lealdade. 

O – E o que menos aprecia numa pessoa?
JD – O contrário do que referi anteriormente e a hipocrisia. 

O – Como se descreve a si próprio?
JD – Sincero, leal e rigoroso. 

O – Considera-se uma pessoa feliz?
JD – Considero, porque tenho uma boa família, poucos mas bons amigos, saúde e trabalho.