Entrevista com
Fórmula do sucesso nos trabalhos académicos feitos em grupo
POR MADALENA SILVA
Conversámos com Elisabete Teixeira e Sandra Martins, duas colegas de Curso e amigas de longa data. Se é daqueles que não gosta muito de fazer trabalhos académicos em grupo, por um motivo ou outro, conheça estas duas jovens que partilham connosco a fórmula do sucesso nesse campo. Mas antes disso, conheçamos um pouco mais sobre cada uma delas.
Elisabete Teixeira à direita e Sandra Martins à esquerda |
Elisabete Teixeira nasceu a 29 de março de 1989 e tem 22 anos. É natural de Vila Real, mas já viveu em muitos sítios: Albufeira, Fonteita e Mosteirô (Vila Real), no território nacional, e em França. Agora, divide-se entre Vila Real e o Porto, por motivos profissionais, pois está prestes a começar o estágio curricular do Mestrado. Mas partilha que também o faz por motivos pessoais, já que o namorado está lá atualmente a estudar.
Sandra Martins é só dois anos mais velha, tendo nascido a 24 de maio de 1987, na Suíça (parte alemã), mais propriamente em Frauenfeld. Morou e estudou nesse país até aos 12 anos e, em 1999, veio com os pais e o irmão mais novo para Portugal. Apesar de respeitar a decisão dos pais, confessa que a adaptação lhe custou um pouco, mas acabou por adaptar-se a Vila Real e agora “adora a cidade”. Não é casada, mas está noiva e por isso muito feliz, confessa.
Como se conheceram
Observando (O) – Fizeram uma parte do Secundário juntas. Há quanto tempo se conhecem exatamente?
Elisabete Teixeira (ET) – Conhecemo-nos há cerca de sete anos, mas no início éramos apenas conhecidas por causa de uma amiga – uma prima minha – que tínhamos em comum, mas era apenas um “olá” e “está tudo bem?”. Penso que no início a Sandra até “não ia com a minha cara”; chegou a dizer-me que me achava convencida (risos) e agora não me larga (risos).
Sandra Martins (SM) – Eu estudei na Suíça até ao 5.º ano, inclusive. Nós só nos conhecemos no 10.º ano, quando fomos estudar para a mesma escola. Por isso, conhecemo-nos há sete anos, mais ou menos. No Secundário, não nos podíamos considerar amigas; éramos colegas de escola. Começámos a ser amigas no 12.º ano, com a viagem de finalistas. Como éramos da mesma escola e a Elisabete era prima de uma grande amiga minha que também foi nessa viagem, acabámos por andar mais juntas. Depois, com a entrada na Universidade, aproximámo-nos ainda mais. Era um mundo novo e só nos conhecíamos e tínhamos uma à outra.
O – Como descrevem o vosso relacionamento?
ET – Encontrei uma amiga verdadeira e sincera que me sabe dizer quando estou a agir bem, mas também quando estou a agir mal. Diz-me as coisas na cara, quer eu goste ou não, mas que são verdadeiras. No início, nunca pensei que fosse resultar numa amizade tão forte: estamos sempre dispostas a ajudarmo-nos uma à outra. Praticamente, sabemos a vida toda uma da outra; as coisas boas e as coisas más. Partilhamos muitos momentos das nossas vidas. E posso dizer que ela já esteve presente em momentos difíceis da minha vida, e aí eu vi a verdadeira amiga que tinha ao meu lado.
SM – Acho que o nosso relacionalmente é um relacionamento normal entre duas amigas. As amigas são assim; querem estar juntas e ajudar-se. Acho que não somos mais do que ninguém. A amizade é isso mesmo: entreajuda.
SM – Acho que o nosso relacionalmente é um relacionamento normal entre duas amigas. As amigas são assim; querem estar juntas e ajudar-se. Acho que não somos mais do que ninguém. A amizade é isso mesmo: entreajuda.
Juntas na Licenciatura e no Mestrado
O – Por que decidiram licenciar-se ambas em Ciências da Comunicação, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD)?
ET – Foi mesmo coincidência. Ciências da Comunicação nem foi a minha primeira opção, mas quando soubemos que estávamos no mesmo Curso foi muito bom, porque estávamos completamente sozinhas num mundo totalmente novo e então unimo-nos. Acho que isso ditou o rumo da nossa amizade.
SM – Foi por acaso. Eu não fazia ideia que a Elisabete tinha colocado o Curso de Ciências da Comunicação, nas suas opções. Eu sempre quis este Curso, mas ela queria Direito e por isso nunca pensei que nos íamos encontrar.
O – Estão no 2.º ano do Mestrado em Ciências da Comunicação – Jornalismo, na UTAD. Porquê este Mestrado e novamente as duas?
ET – Mais uma vez, não fizemos a opção juntas. Eu concorri para Mestrado para Braga e tentei a todo o custo entrar no Porto. Já a Sandra sempre quis ficar em Vila Real. Como não consegui entrar onde queria, voltámos a ficar juntas por acaso. Está destinado (risos)!
SM – Quando escolhi este Curso, o que realmente me interessava era a vertente de Publicidade e Relações Públicas. Porém, uma vez, uma professora disse: "Existem pessoas nesta sala que vão desistir de ser jornalistas e existem outros que vão apaixonar-se por esta profissão", e foi o que aconteceu comigo. Apaixonei-me pelo Jornalismo. Por isso, optei por fazer o Mestrado, na UTAD, pois não queria sair de Vila Real. A Elisabete concorreu para Braga, porém, só na segunda fase, o que fez com que já não houvesse vagas. Assim, o destino juntou-nos de novo.
O – Conseguem realizar trabalhos de grupo, de forma contínua, para o Mestrado, alcançando o sucesso em termos de coesão de equipa e resultados. Qual é o segredo?
ET – Acho que como já fazemos trabalhos de grupo juntas há muitos anos, fomo-nos adaptando uma à outra. Cedemos ou não nos importamos de simplesmente fazer a vontade à outra. Mas também damo-nos bem no trabalho, porque nos damos muito bem como amigas e, como já nos conhecemos muito bem, sabemos o ritmo de trabalho de cada uma, a forma como trabalha, os gostos, a área para a qual tem mais “queda” e então torna-se tudo muito mais fácil. Aliás, nós conseguimos fazer trabalhos à distância, mesmo estando em cidades diferentes, e no fim o resultado é ótimo. Acho que somos bastante organizadas, responsáveis e tanto uma como a outra não gosta de fazer as coisas à última da hora, em cima do joelho. Já conhecemos bem o feitio uma da outra e gostamos de trabalhar juntas e isso é essencial: gostar de trabalhar com o elemento do nosso grupo.
SM – O segredo é que não temos segredo. Encaixamo-nos; não sei porquê. Deve ter a ver com os nossos feitios. Existem alturas em que concordamos a 100% e outras vezes não concordamos de todo. Mas quando isto acontece, alguém tem de ceder, por vezes, cedo eu; outras vezes, cede a Elisabete.
O – Também acontecia quando ambas tiravam a Licenciatura em Ciências da Comunicação, na UTAD?
ET – Sim, trabalhámos juntas desde o primeiro trabalho de grupo e desde então nunca mais nos largámos (risos). Mesmo para as frequências, estudávamos muitas vezes juntas. Lembro-me que chegámos a “estudar” pelo Messenger para tirar dúvidas. Na Licenciatura, éramos um grupo de seis e também sempre nos demos bem; só não fazíamos os trabalhos todas juntas quando não dava mesmo. Acho que o segredo é mesmo a forte amizade que nos une: não há hipocrisia, falsidade, interesse, egoísmo ou inveja. O que nos une é verdadeiro e puro; considero-as minhas irmãs. Parece que as conheço desde sempre; que sempre fizeram parte da minha vida. Até as conhecer na Universidade, nunca tinha tido uma amizade assim.
SM – Sim, com uma diferença: na Licenciatura, não éramos só as duas; éramos seis. Fazíamos tudo juntas: estudar, trabalhar e por vezes só conversar e passar o tempo. Éramos muito unidas, o que fez com que quando nos separámos eu e a Elisabete nos juntássemos mais. No Mestrado, só nos temos uma à outra, tal como aconteceu quando entrámos na Universidade.
O – Qual é a mais persistente nas suas ideias, quando trabalham em grupo?
ET – Acho que sou eu. Não é bem ser persistente; é mais ter dias em que sou muito teimosa e refilona, mas a Sandra já me conhece bem e quando é assim não “me dá pano para mangas”, como se costuma dizer (risos), senão iríamos discutir muitas vezes, o que não acontece. Entendemo-nos perfeitamente.
SM – Tem dias. Por vezes, sou eu; por vezes, é a Elisabete. Quando sou eu, a Elisabete cede. Quando é ela, eu cedo (sorriso).
O – Conseguem sempre ultrapassar as vossas diferenças, em prol do sucesso do trabalho e da vossa amizade?
ET – Sim, e acho que é mais em prol da nossa amizade. Fazer trabalhos de grupo com a Sandra não é uma obrigação ou desagradável. Adoro fazer trabalhos com ela; é sempre uma animação. Mas claro, sabemos quando é tempo para trabalhar e quando é tempo para brincar, mas regra geral unimos sempre estes dois ingredientes e as coisas saem sempre bem. Vou sentir saudades de trabalhar com ela.
SM – Até agora sim e ainda bem.
O – Quais são as vossas expectativas em termos de mercado de trabalho, depois de terminarem o Mestrado?
ET – Aproxima-se um estágio no Porto. Por isso, vou mantendo a esperança de conseguir ficar a trabalhar na área. Ao contrário da Sandra que está muito ligada à família e à cidade, não me custa tentar procurar trabalho na área noutras cidades, tanto que já fiz estágios de longa duração em Braga e no Porto. Não irei desistir nem desanimar, mas se não conseguir uma coisa é certa: irei trabalhar para onde houver trabalho, mesmo que seja num café outra vez.
SM – Infelizmente, não são muitas. Vivemos num mercado sobrelotado. O meu problema é que eu sou uma pessoa mesmo muito ligada à família e, ao contrário dos meus pais que deixaram a família para irem trabalhar para outro país, eu era incapaz de o fazer. E até a ideia de ir para outra cidade é muito complicada. Por isso, o meu futuro é um pouco incerto.
Trabalhadoras-estudantes
O – Para além do Mestrado, têm um emprego ou só estudam?
ET – Vou tendo vários ‘part-times’. Já trabalhei num café, num restaurante e faço promoções. Aproveito todas as oportunidades de trabalho que consigo encontrar para ajudar a pagar os estudos.
SM – Para além de estudar, trabalho na Fundação Casa de Mateus, como guia turística de Inglês, Alemão e Português. Todavia, só na época da primavera e verão, ou seja, na época alta do turismo.
O – Onde já trabalharam e quais as vossas funções?
ET – Comecei a trabalhar quando entrei na Universidade, como Promotora nos hipermercados. Entretanto, de há 2 anos para cá, tenho-me desdobrado entre vários empregos. No café, trabalhei como empregada de balcão; no restaurante onde trabalhei durante as férias de verão, fui empregada de mesa, mas também de vez em quando ajudava na cozinha. Atualmente, faço promoções de diferentes produtos nos hipermercados.
SM – O meu primeiro e único trabalho foi realmente na Fundação Casa de Mateus. Estou lá desde 2009. Apesar de ser um trabalho muito desgastante, pois nem sempre estamos felizes e com vontade de sorrir, é muito gratificante. Adoro quando me dizem que gostaram da visita e que tenho muito jeito. Aí, percebo que vale a pena. E é muito bom conhecer pessoas de outros países e de outras culturas.
O – Os vossos pais ainda custeiam as vossas despesas mensais ou já conseguem ser financeiramente independentes?
ET – Eu ainda não consigo ser financeiramente independente dos meus pais. Ainda vivo em casa deles e o que ganho é para as minhas coisas do dia a dia, porque os empregos são de curta duração e o que ganho não chega para tudo.
SM – Apesar de só trabalhar uma parte do ano, consigo poupar e assim "sustentar-me" durante o resto do ano, mas sem excessos. Mas como vivo com os meus pais, eles acabam sempre por me ajudar e pagar algumas despesas mais elevadas.
Fora da UTAD
O – Para além dos trabalhos de grupo para o Mestrado, o que costumam fazer juntas, fora da UTAD?
ET – Tudo. Sabemos quase tudo da vida uma da outra. Combinamos almoços, jantares, passeios e compras de mulheres (risos). Estamos sempre a par dos problemas uma da outra. Pedimos ajuda, opiniões e conselhos uma à outra.
SM – Tudo o que duas amigas normais fazem. Falar sobre as nossas vidas, problemas, sonhos, dúvidas... Ir às compras, passear, lanchar, estudar...
O – O que gostam de fazer nos tempos livres?
ET – Agora, o tempo livre é pouco. Por isso, aproveito-o para estar com o meu namorado, a minha família e as minhas amigas. Há dias em que prefiro estar sossegada em casa a descansar e a ver um bom filme.
SM – Eu adoro estar com os meus amigos, família e namorado. São estas as pessoas que me entendem e me fazem felizes. Adoro cinema, passear, surfar na Internet, ouvir música...
O – Que tipo de leitura gostam de fazer?
ET – Romances, sem dúvida. Mas ultimamente não me tenho dedicado muito à leitura.
SM – Neste momento, como o tempo é escasso, costumo ler mais os jornais online e um ou outro artigo que me interessem. Já há algum tempo que tenho um livro na cabeceira, mas ainda não o consegui acabar de ler: “Animal Farm”.
O – Qual é o tipo de música que gostam de escutar?
ET – De tudo um pouco e conforme o estado de espírito. Há dias em que prefiro músicas animadas, cheias de ritmo e outros em que prefiro músicas calminhas.
SM – Na música, não sou esquisita. Adoro tudo, desde a clássica, ao pop, ao rock...
O – A que tipo de filme gostam de assistir?
ET – Todo o tipo de filme que me faça rir, desde filmes de desenhos animados até às comédias românticas.
SM – Gosto muito de cinema. É provavelmente onde gasto mais dinheiro. Gosto de ver as últimas novidades, mas sobretudo filmes cómicos e comédias românticas.
O – Têm algum programa televisivo favorito?
ET – Séries. Adoro todo o tipo de séries como “C.S.I”, “Doctor House” ou “Anatomia de Grey”.
SM – Não. Vejo de tudo um pouco.
O – Qual foi o melhor momento da vossa vida?
ET – Não sei dizer qual foi o melhor momento da minha vida, mas sei dizer quais são os meus melhores momentos: quando oiço um “amo-te” sincero e puro da pessoa que amo; quando me reencontro com as minhas amigas, uma vez que agora estamos todas separadas; quando proporciono momentos felizes e recebo um simples sorriso ou uma gargalhada dos meus pais e do meu irmão; quando conheço sítios que quero conhecer com o meu namorado; quando simplesmente sinto que sou verdadeiramente amada pelas pessoas que me rodeiam e que são importantes para mim.
SM – Não posso escolher o melhor momento, pois já tive vários. Sou uma pessoa que valoriza muito os momentos e por isso acabo por ter muito bons momentos. Sou feliz quando oiço uma música; quando vejo uma fotografia; quando estou com os meus.
O – E o momento mais triste?
ET – Como toda a gente, tenho os meus problemas e classifico-os como graves de acordo com a minha vivência. Por isso, para mim os momentos que me marcaram como sendo os mais tristes foram a depressão da minha mãe há muitos anos e o divórcio dos meus pais. Também quando o meu grupo de amigas se separou todo quando cada uma seguiu para Mestrado. E ainda quando o meu namorado foi estudar para o Porto e ficámos pela primeira vez mais do que uma semana sem nos vermos...
SM – Também já tive vários, mas os mais tristes é quando algum dos meus está doente ou tem de partir. Sofro muito, pois sou muito ligada a eles.
O – O que mais apreciam numa pessoa?
ET – A responsabilidade e que tenha objetivos de vida. Aprecio pessoas que saibam dar valor às coisas e que saibam lutar pela vida. Gosto de pessoas de uma palavra só, sinceras e fiéis. E claro, gosto de pessoas que saibam brincar; sejam animadas e otimistas e que saibam proporcionar bons momentos; que saibam dizer a coisa certa na altura certa.
SM – O sentido de humor. Gosto de pessoas que me façam rir e consequentemente me façam felizes. Só essas valem a pena, pois marcam.
O – E o que menos apreciam?
ET – Não gosto de pessoas fúteis, “ocas” e que andem no mundo por verem andar os outros. Não gosto de pessoas invejosas, egoístas e sobretudo mimadas que não sabem dar valor ao que têm.
SM – A irresponsabilidade… Detesto.
O – Como se descrevem a si próprias?
ET – Não sei mesmo… Acho que sou um pouco de tudo e conforme a pessoa com quem estou. Sei ser amável, atenciosa, carinhosa, divertida e animada. Sei ser responsável quando tenho de ser, mas também sei aproveitar os momentos e divertir‑me ao máximo sem me preocupar com o que os outros pensam. Aliás, más‑línguas não me preocupam minimamente. Só oiço e me preocupo com as opiniões das pessoas que me querem bem. Sei ser uma boa amiga, uma boa filha, uma boa irmã e uma boa namorada. Mas também erro como toda a gente. Tenho os meus defeitos como toda a gente. Reconheço que às vezes deveria dar mais atenção a quem merece, ser menos refilona, menos teimosa e deixar de ser tanto de ideias fixas que às vezes me impede de ouvir as pessoas que têm razão. Sou muito sentimentalista, o que por vezes é muito mau, pois penso às vezes mais com o coração do que com a cabeça. O meu maior defeito é ser muito impulsiva, o que me leva a dizer e fazer coisas que não quero e que magoam as pessoas que me amam.
SM – Sou uma pessoa como as outras, que só quer ser feliz com os que mais ama. Sou simples, humilde, sonhadora, responsável, sensível, amiga e infelizmente orgulhosa e teimosa.
O – São felizes?
ET – Agora sim. Mas já passei por momentos complicados. Mas tanto estamos bem num dia como no dia a seguir já estamos mal. Mas neste momento, sim, sou feliz. Tenho as pessoas que amo ao meu lado; não tenho ninguém da família doente nem a passar mal.
SM – Eu sou feliz, porque quero sê-lo. Para sermos felizes, só temos de nos valorizar a nós próprios e a quem nos rodeia. Tenho 24 anos, uma família maravilhosa, um namorado fantástico, uns amigos espetaculares, uma Licenciatura na área que adoro, um bom emprego e muitos sonhos. O que preciso mais?