quinta-feira, 29 de dezembro de 2011


Entrevista com
Tomás Silva*


Ténis de mesa: “Praticado por pessoas de todas as condições sociais, homens e mulheres”


POR MADALENA SILVA



Tomás Silva

Tomás Silva nasceu em Coimbra, mas é oriundo de uma família rural de Trevões, concelho de S. João da Pesqueira (Alto Douro). Foi lá que cresceu feliz com os seus quatro irmãos. Estudou desde os dez anos num colégio de jesuítas, em Santo Tirso, tendo-se depois mudado para o Porto. Foi aí que se matriculou na Escola de Belas-Artes e estudou Arquitetura durante um tempo, mas acabou por ir para Coimbra. Em 1972, foi recrutado para o serviço militar, o “que incluiu um ano em cenário de guerra”. Três anos mais tarde, ingressou na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, tendo-se licenciado em Economia, em 1981. Também nessa cidade conheceu a mulher com quem se casou. Trabalhou em Mirandela, onde viveu cerca de oito anos até ter iniciado uma carreira de 22 anos na docência, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), que deixou há pouco tempo. Atualmente com 60 anos, diz fazer um balanço positivo da sua pacata vida, já que teve a oportunidade de viver quase sempre segundo os seus próprios caprichos.


Como tudo começou

Observando (O) – Sabemos que praticou ténis de mesa durante uns meses até ficar definitivamente magoado de um pé. Porquê esta modalidade?
Tomás Silva (TS) – Joguei um pouco quando jovem, como quase toda a gente. Retomei há alguns anos, cerca de duas vezes por semana e, quando abriu a secção de ténis de mesa do Club de Vila Real, com mais assiduidade. Quanto aos motivos, trata-se de uma modalidade muito prática: joga-se todo o ano dentro de uma sala; o equipamento é acessível; basta um parceiro ou parceira; não tem limitações de idade e é um dos desportos onde ocorrem menos acidentes físicos. 

O – Teve alguma formação antes começar a jogar?
TS – Não. Mas no Club de Vila Real havia, e suponho que ainda há, uma orientação informal aos jogadores adultos, dada por um treinador, o que me permitiu melhorar um pouco o meu fraco desempenho.

O – Foi um praticante ocasional ou federado?
TS – Ocasional. As minhas competências estão muito aquém dos outros amadores federados, que costumam jogar em competições.

O – Nutre admiração por algum(a) jogador(a) da modalidade, entre os atuais profissionais: João Monteiro, Tiago Apolónia, Marcos Freitas ou Maria Xiao?
TS – Não sou aficionado a esse ponto. Por vezes, vejo competições mundiais na televisão, mas pouco sei sobre os jogadores, salvo que muitos deles são chineses.

O – E entre os antigos profissionais: Oliveira Ramos, José Alvoeiro, Pedro Miguel e Ricardo Roberto?
TS – Idem.

O – Faz parte de alguma das associações existentes?
TS – Não. Durante algum tempo fui membro da Associação de Ténis de Mesa de Vila Real, atualmente integrada no Club de Vila Real.

O – Segundo a Federação Portuguesa de Ténis de Mesa (FPTM), esta modalidade era designada por “ping-pong”, nos seus primórdios em Portugal. Sabe porquê?
TS – A designação popular de “pingue-pongue” é obviamente uma onomatopeia, isto é, derivada do som feito pela bola. Na sua origem inglesa, também se chamava “wiff-waff”, quando se jogava com uma bola de cortiça, feita de rolha de champanhe, e dois livros, na mesa da biblioteca das casas ricas. Deixou de ser oficialmente utilizado, porque, segundo consta, o nome “ping-pong” foi objeto de registo de marca há pouco mais de cem anos atrás.


Dicas para iniciar 

O – O que é necessário para começar a praticar ténis de mesa, em termos de condições físicas, formação, equipamentos a adquirir/alugar e seguro de acidentes pessoais?
TS – É necessário muito pouco para a prática amadora. Por exemplo, no Club de Vila Real, os associados podem jogar sem outro equipamento que roupa leve e sapatos de ténis vulgares, pois dispõem de mesas, raquetas e bolas. Não há qualquer condição especial, a não ser, obviamente, ter um ou mais parceiros com quem jogar, o que é fácil quando se frequenta uma associação. É obviamente diferente para os jogadores federados, os quais necessitam de melhor equipamento, vigilância médica, treino físico e técnico supervisionado, etc.

O – É necessária algum tipo de formação inicial ou partir do zero é possível na prática da modalidade?
TS – Não é necessário mais do que aprender algumas regras simples, caso se queira respeitar as regras da modalidade. Mas mesmo isso pode ser aprendido aos poucos. Quando se começa, não se tem domínio sobre onde a bola vai parar e pode ser um pouco frustrante fazer mais exercício a apanhar bolas do chão do que a jogar! Por isso, se possível, deve praticar-se, de vez em quando, com outro jogador mais experiente, num estilo em que se faz por facilitar a jogada ao “adversário”. Mesmo os melhores jogadores fazem esse treino regularmente, em que a bola segue a mesma diagonal durante várias jogadas, de modo a automatizar os movimentos e ganhar progressivo controlo sobre a trajetória e destino da bola. Isto é indispensável para progredir e tirar cada vez mais prazer do jogo.

O – É um desporto dispendioso?
TS – De modo nenhum. As mesas de qualidade são caras – a partir de algumas centenas de euros –, mas uma raqueta e bolas para principiantes, custa apenas uma dúzia de euros. E bastam uns sapatos de ténis vulgares e roupa confortável.

O – Que tipos de pessoas procuram o ténis de mesa?
TS – O ténis de mesa é praticado por pessoas de todas as condições sociais, homens e mulheres, raparigas e rapazes. É um desporto de agilidade que pode ser muito gratificante quando se tem persistência para a prática regular. Há inclusive modalidades de ténis de mesa adaptado para portadores de deficiência.

O – Há praticantes de todas as idades?
TS – Sim. Logo que começa a idade escolar e até idade avançada (sexagenários). Na prática federada há, creio, cinco classes etárias.


Da teoria à prática

O – Quer explicar o jogo e as regras do ténis de mesa?
TS – As regras oficiais são muito completas, definindo todos os pormenores do equipamento, modos de jogar e contar pontos, arbitrar, etc. Para principiantes, basta saber que o jogo começa com um dos jogadores a lançar a bola no ar com a mão livre e a bater com a raqueta na bola de modo a que toque primeiro no seu campo, passe por cima da rede e vá tocar o campo adversário. É o chamado “serviço”, o qual é efetuado pelo mesmo jogador em cada 2 pontos. Em resposta, o outro jogador bate com a raqueta na bola, depois de esta tocar o seu próprio campo, de modo a devolve-la ao campo adversário e assim sucessivamente. É a chamada “devolução”. Quem não conseguir servir ou devolver perde um ponto para o adversário. Há algumas especificidades próprias do jogo a pares, com dois jogadores de cada lado, sendo as mais importantes o serviço ser em diagonal – existem dois quadrantes de cada lado da mesa – e a devolução ser efetuada alternadamente por cada jogador do mesmo campo.

O – Quanto tempo no mínimo e no máximo pode demorar uma partida?
TS – Uma partida é qualquer número ímpar de jogos, trocando de campo, sendo que cada jogo termina quando um jogador atinge 11 pontos ou uma vantagem de 2 pontos subsequente a um empate a 10. Todavia, em competição, há um limite máximo de 10 minutos.

O – Quer falar-nos sobre as técnicas que conhece e que habitualmente utilizava?
TS – O ténis de mesa é um jogo de agilidade e muito rápido, isto porque, apesar de a velocidade da bola – que pode chegar a mais de 100 km/h – ser inferior a outros jogos de raqueta, a distância é muito mais curta e deixa, assim, pouco tempo para reagir: demora apenas 40 km/h a percorrer toda a mesa; cerca de ¼ de segundo. Requer, por isso, treinar os reflexos e a antecipação essencialmente para assumir a posição de todo o corpo mais favorável à devolução da bola. Além disso, há movimentos típicos, variando a força e o efeito da raqueta sobre a bola em conjugação com o estilo do jogador e o movimento anterior do adversário, sendo de toda a utilidade automatizar e tornar instintivos, através do treino, esses movimentos típicos. Por fim, o jogo deve ser um misto de competição e cooperação de forma a criar sequências de batimento ao mesmo tempo eficazes e lúdicas. Por vezes, alterna-se entre partidas de jogo competitivo e partidas de jogo de estilo, onde se procura mais a perfeição do movimento do que a vantagem sobre o adversário.

O – É frequente os praticantes magoarem-se?
TS – Não. Na verdade é um dos desportos mais seguros se for praticado sem excessos.

O – Onde já teve a oportunidade de praticar a modalidade?
TS – Em Vila Real, joguei em três locais, antes de a Associação de Ténis de Mesa se instalar no Club de Vila Real: num salão de jogos, num clube desportivo e numa corporação de bombeiros, em condições muito inferiores às do Club.

O – Onde se pode praticar, em Vila Real?
TS – Como referi, o melhor local é no Club de Vila Real, situado na Rua António Azevedo, n.º 53. Para saber mais, pode consultar-se a página na Internet em: www.cvilareal.com.

O – Qual foi a situação mais desagradável por que passou na sua prática?
TS – Sem dúvida que foi ter de desistir de praticar, por razões médicas.

O – Qual foi o momento que mais o marcou de forma positiva? 
TS – Encontrar um espaço adequado e frequentado por um grupo de entusiastas, num ambiente de grande camaradagem.

O – Como ex-praticante deste desporto, tem saudades de o praticar?
TS – Muitas. Pelos benefícios físicos, pela dimensão lúdica e pelo ambiente coletivo.

O – Como se sentia ao praticá-lo?
TS – Apreciei especialmente a boa forma física e o aperfeiçoamento constante, qualquer deles é fonte de grande prazer.

O – A prática deste desporto ajudava-o a manter-se saudável?
TS – Sem dúvida. É um desporto em que a força está ao serviço do movimento em vez do inverso, e em que todo o corpo é mobilizado. Mesmo jogando intensamente é possível fazê-lo durante mais de duas horas seguidas, sem sobrecarga excessiva.

O – Além das regras e técnicas, o que se aprende nesta modalidade?
TS – De um ponto de vista físico, é essencialmente a agilidade e a harmonia de movimentos. De um ponto de vista psicológico, é a dedicação ao aperfeiçoamento contínuo. De um ponto de vista relacional, é o conhecimento das nossas atitudes e das dos outros, face à competição e à cooperação, um pouco como qualquer desporto, mas de forma bastante interativa.

O – Gostaria de deixar um convite e alguns conselhos aos interessados para a prática do ténis de mesa?
TS – Não olhar para o ténis de mesa apenas como uma modalidade desportiva, mas também como uma atividade extremamente lúdica, como o provam o facto de ser praticada desde o século XIX, mas só em 1988 se tornar desporto olímpico. E não desistir de praticar, pois uma ou duas vezes por semana durante três ou quatro meses é o bastante para começar a sentir os efeitos benéficos da modalidade.

Promoção do ténis de mesa

O – A existência da FPTM e das várias associações é importante para a promoção e dinamização da modalidade?
TS – Creio que sim. Apesar de estar presente em quase todas as escolas secundárias, a sua importância é inferior a outras modalidades como a natação ou o basquete, por exemplo. Assim, a principal dinamização vem das associações que congregam muitos jovens e mesmo em localidades menos centrais, há associações com grande tradição, como é o caso das de Mirandela ou da Madeira, entre muitas outras. São o suporte da modalidade.

O – Considera que a promoção que existe é suficiente e acessível a todos?
TS – As associações exigem muita carolice para sobreviverem e, além disso, nem sempre conseguem espaços adequados e suficientes para a prática. Por exemplo, a construção e o equipamento de pavilhões desportivos um pouco por todo o país não costumam contemplar a modalidade, o que é sintomático.

O – Gostaria de deixar alguma sugestão aos promotores deste desporto?
TS – Creio que as organizações ligadas ao ténis de mesa fazem um bom trabalho. Em todo o caso, penso que há mais enfoque na vertente competitiva do que na vertente lúdica. Quero crer que seja por razões de sustentabilidade imediata, mas ainda assim penso que uma maior atenção aos praticantes ocasionais pode contribuir para maior sensibilização, quer dos cidadãos, quer dos poderes públicos, para o contributo potencial da modalidade para a saúde pública, em sentido lato. 



A seguir, encontra alguns vídeos sobre atividade:


“XI Torneio Cidade de Gaia antecede Campeonato Nacional de Equipas.
Duas centenas e meia de atletas nos escalões de Iniciados, Infantis e Cadetes, de ambos os sexos, oriundos de todos os pontos do país, juntaram-se em Vila Nova de Gaia, nos dias 27 e 28 de Março [2010], para participarem no ‘XI Torneio Cidade de Gaia em Ténis de Mesa".
  



“Feito inédito da equipa Sportinguista constituída por Pedro Miguel, João Portela e Nuno Dias, também pentacampeões nacionais da modalidade representando o Sporting Clube de Portugal.”

* Nome fictício.




Fontes: 

·      http://www.fptm.pt/

Consultado em: 14/12/2011

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