quinta-feira, 29 de dezembro de 2011



Crónica


Depressão: nem penses que nos vais vencer!...


POR MADALENA SILVA




Todos ouvimos falar de depressão. É na televisão, na rádio, nos jornais, na Internet, na farmácia, no hospital, no emprego – se o tivermos, claro –, no supermercado… E porquê? Porque se não é da boca do médico que a diagnostica, é da boca da comunicação social; é da boca de pessoas com quem cruzamos nos supermercados que se encontram casualmente e decidem desabar ali mesmo; é da boca dos farmacêuticos que ao aviarem os receituários às vezes explicam um pouco mais alto aos utentes como devem tomar a medicação; é da boca de alguém que trabalha connosco – se fizermos parte dos felizes contemplados com um emprego, como é claro – e que conhece uma pessoa com depressão. 

Enfim, este ciclo de informação mais parece uma sequência de dominós em que a primeira peça foi derrubada e derruba as restantes sem piedade, não lhe escapando nenhuma. Todos tomamos consciência de que ela existe de forma direta ou indireta. Será isso bom ou mau? 

Embora a doença deva ser olhada de forma séria, porque é de facto um problema grave e atual da nossa sociedade, será necessário “dramatizar” tanto a situação? Não deixará quem está deprimido ainda mais deprimido? E não deprimiremos todos – família, amigos, pessoas com quem lidamos no dia a dia, conhecidos e desconhecidos – um pouco à sua volta? 

Não podemos negar os números que o Instituto Nacional de Estatística (INE) apresenta, em resultado dos Inquéritos Nacionais de Saúde. Contra factos, não há naturalmente argumentos. Muitos são aqueles que sofrem de depressão em Portugal, sendo esta uma doença tão importante em termos de necessidade representativa nos inquéritos, como a Diabetes, a Asma, a Doença Reumática, a Osteoporose, a Hipertensão e Dor Crónica. 

Mas não conseguiremos nós, cidadãos de um pequeno país, encontrar uma forma menos “dramática” de tratar da questão? De ajudarmos de uma forma simples e benéfica para todos? Sim, sofrem de depressão, mas se passarem a vida a ouvir os outros a dizerem que o número de pessoas com depressão aumenta quase de dia para dia, é bem provável que só ajude a deprimi-los ainda mais. 

Claro que o agravamento da doença pode ser uma resposta à crise em que vivemos, e se for a comunicação social tem o dever de comunicar os números reais ao público, mas que o faça de forma assertiva, sem “colorir” a informação.

O que podemos fazer para ajudar aqueles que conhecem a doença de perto? Ocorrem-me algumas ideias que certamente não serão originais, mas enfim… E que até poderão ser consideradas parvas ou no mínimo despropositadas para quem nunca tocou no problema. Mesmo assim, aqui vão elas.

E se de cada vez que alguém viesse falar connosco sobre depressão e padecesse da mesma, abraçássemos fortemente essa pessoa. Fizéssemos senti-la querida e apoiada, mesmo que só por uns minutos. Não seria bem melhor e mais positivo para ambos; aquele que desabafa e o que ouve? Sou daquelas pessoas que acredita no poder do calor humano. Sejamos solidários e amigos, de uma forma mais aconchegada.

Ou então, podíamos sempre esquecer o mundo, durante pelo menos cinco minutos, e dançar com ela ao som de uma música bem alegre, mesmo que fosse no meio da rua – longe dos carros em andamento, claro. Para que serve as toneladas de tecnologia ao nosso dispor, afinal? Com tantos telemóveis, leitores MP3, MP4 e outros, com certeza seríamos capazes de improvisar qualquer coisita, não? Bastava querermos. Há tanto que podemos fazer e não nos custava absolutamente nada. 

Temos uma responsabilidade social para com a doença, para com aqueles que padecem dela e aqueles que veem alguém sofrer da mesma. Não tapemos os olhos a problemáticas como esta e tantas outras similares, só porque não nos bateu à porta. Hoje, é o vizinho; amanhã, poderá ser qualquer um de nós em casa. Apoiemos aqueles que precisam de uma forma humana e encorajadora, para contrariar os sintomas da doença.





Para uma leitura dos dados exatos, consulte o “Inquérito Nacional de Saúde 2005/2006” (texto integral da publicação), do Instituto Nacional de Estatística e do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.


Fonte (imagem): 


Consultado em: 29/12/2012 

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