Entrevista com
Jorge Dinis
Jorge Dinis: “Sempre tive vontade de exercer uma atividade ligada às Forças de Segurança ou Forças Armadas"
POR MADALENA SILVA
Jorge Dinis
Estivemos à conversa com Jorge Dinis, um Agente da Polícia de Segurança Pública (PSP) e Mestrando do último ano de Ciências da Comunicação – Relações Públicas e Publicidade. Nasceu a 18 de abril de 1968. É natural da Freguesia de Bornes de Aguiar, Concelho de Vila Pouca de Aguiar. Foi educado com os pais e a irmã. É casado, tem duas filhas e reside presentemente em Vila Real. Ao longo da vida, teve várias profissões, tendo logo aos 17 anos sido rececionista de hotel. Dos 18 aos 21 anos, cumpriu o serviço militar ao serviço do Corpo de Tropas Paraquedistas. Ingressou na PSP, aos 22 anos, onde se mantém até à presente data. Foi inicialmente colocado em Lisboa, de 1990 a 1999. De seguida, foi colocado em Vila Real e lá permanece até hoje.
Observando (O) – Por que decidiu licenciar-se em Ciências da Comunicação?
Jorge Dinis (JD) – Já tinha tido uma experiência académica de três anos no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), onde frequentei o Curso de Sociologia, o qual não concluí por razões familiares. Como tinha gostado da vida académica, resolvi candidatar-me à Licenciatura em Ciências da Comunicação, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Porquê? Achei que poderia ajudar-me no exercício da minha atividade profissional e acrescentar algo à minha vida pessoal.
Ser agente da PSP
O – Atualmente, é agente da PSP, em Vila Real. A que Unidade de Polícia pertence?
O – Atualmente, é agente da PSP, em Vila Real. A que Unidade de Polícia pertence?
JD – Estou colocado na Esquadra de Intervenção e Fiscalização Policial – Equipa de Fiscalização Policial.
O – O que o levou a abraçar esta profissão?
JD – Sempre tive vontade de exercer uma atividade que de alguma forma estivesse ligada às Forças de Segurança ou Forças Armadas. Como estive quatro anos ligado às Forças Armadas e gostei muito, resolvi candidatar-me à PSP.
O – Quais são as suas funções?
JD – Quase toda a minha vida profissional se desenvolveu na área da investigação criminal, contudo, desde 2009, as minhas funções passam pela atividade inspetiva nas áreas das Armas e Explosivos, Segurança Privada, Estabelecimentos e Ambiente.
O – Que tipo de formação obteve para desempenhar as suas funções, na PSP?
JD – Inicialmente, fiz o Curso de Formação de Agentes, como todos os elementos. E posteriormente, ao longo da minha carreira, frequentei internamente vários cursos como, por exemplo, os Cursos de Investigação Criminal; Trânsito; Ordem Pública; Fiscalização da Atividade de Segurança Privada; Segurança Privada, entre outros.
O – Como se sente ao saber que carrega uma arma de fogo, durante o trabalho?
JD – Atualmente, já nem lhe atribuo um grande significado, porque ao longo dos anos fui-me habituando e agora faz parte de mim, tal como a Carteira Profissional. No início da minha carreira, foi um bocadinho complicado, porque uma arma implica mais responsabilidade, já que o porte da mesma dá-nos segurança, mas também torna o agente responsável pela sua manutenção e uso, sendo o seu uso uma situação muito complicada, tanto emocional como juridicamente.
O – Já foi forçado a disparar para deter alguém ou em legítima defesa?
JD – Já e por mais de uma vez, mas não posso entrar em pormenores por razões éticas.
O – Sente que a população em geral respeita a Autoridade, nomeadamente os agentes da PSP?
JD – Sinto que uma fatia da população respeita a Autoridade, concretamente as pessoas mais velhas. Mas o respeito é uma conquista dos Profissionais de Polícia, que deve ser da responsabilidade de cada um, ou seja, cada um à sua maneira é que deve conquistar esse respeito. No meu caso, não me lembro de alguém me ter faltado ao respeito. Se tal acontecer, existem mecanismos policiais e jurídicos para impor esse respeito.
O – Pode descrever como decorre um dia de trabalho mais calmo? E um mais agitado?
JD – Os meus dias de trabalho resumem-se à atividade inspetiva e burocrática. Como tal, não é representativo da atividade mais operacional da PSP. Mas dentro das funções que exerço, poderei considerar os mais agitados aqueles em que estou empenhado nas fiscalizações e os mais calmos aqueles em que estou no interior das instalações policiais a elaborar expediente e outros assuntos de caráter burocrático.
O – Há agentes especializados dentro da Unidade de Polícia à qual pertence para casos concretos ou todos trabalham com todo o tipo de caso?
JD – A minha Esquadra apenas trabalha nas áreas da intervenção policial e fiscalização, sendo que a primeira se dedica à ordem pública e a segunda onde pertenço trabalha na área da fiscalização de Armas e Explosivos, Segurança Privada, Estabelecimentos e Ambiente. Mas a Polícia, por exigência das suas competências, tem os seus quadros divididos pelas mais diversas áreas de intervenção, como por exemplo, o Trânsito, a Investigação Criminal, a Segurança de Altas Entidades, o Corpo de Intervenção, entre outras. Referi apenas quatro, no entanto, tem muitas mais, o que implica cada vez mais uma maior especialização e afetação dos seus elementos a uma determinada área de ação.
O – Pode partilhar connosco qual foi o caso, sem entrar em pormenores, que mais o marcou em todo o seu percurso profissional, na PSP?
JD – Foi uma situação de um furto no interior de uma residência em Lisboa, onde tive de recorrer à arma de fogo, como resposta ao assaltante e de onde um colega saiu ferido.
O – Quais são os casos a tratar mais frequentes, na PSP?
JD – Situações de trânsito, manutenção da ordem pública, violência doméstica, entre outros.
O – Gosta da sua profissão?
JD – Gosto, no entanto, penso que, por ação daqueles que nos governaram, está presentemente a ficar desprestigiada e muito mal renumerada. Daí, haver alguma insatisfação.
O – Aconselharia possíveis interessados a candidatar-se a um posto de trabalho na PSP?
JD – Aconselho a todos aqueles que queiram ser realmente profissionais de Polícia.
O – Que requisitos deve ter um bom profissional da PSP?
JD – Deve ter uma noção muito realista da sociedade em que intervém e compreendê‑la. Depois, deve reger-se pelos princípios básicos da vida: isenção, imparcialidade, idoneidade, patriotismo, lealdade, entre outros.
O – É uma profissão desgastante física e psicologicamente?
JD – Sim, no entanto, dentro da atividade policial, há serviços onde esses aspetos são mais relevantes do que noutros. Os serviços operacionais são muito mais exigentes, porque implica o contacto direto com as situações.
O – É difícil chegar a casa, no final de um dia de trabalho intenso, e não poder partilhar com aqueles que coabita situações que tenham ocorrido durante o dia, no âmbito do seu trabalho?
JD – Para mim, não, porque desde que iniciei a minha atividade profissional que me mentalizei que as questões profissionais ficam no serviço e não me tenho dado mal com esta opção.
O – Pode partilhar como lida com situações que, na sua opinião, poderiam ter sido tratadas de uma forma mais adequada?
JD – Cada situação é única. Por isso, temos que adotar as medidas, sempre dentro dos princípios legais, mais convenientes a cada situação em concreto.
O – De entre todas as tarefas inerentes à sua profissão, qual é a que mais lhe agrada? E a que menos lhe agrada?
JD – Gosto do que faço, mas sinto-me mais realizado a desempenhar tarefas no âmbito da investigação criminal, como fiz até 2008. Presentemente, não me sinto tão realizado na atividade inspetiva por implicar a aplicação de coimas.
O – Qual foi a situação mais agradável que viveu até hoje no seu local de trabalho? E a menos agradável?
JD – As situações mais agradáveis que vivi foram aquelas em que o meu trabalho foi reconhecido e felizmente já foram algumas, tanto por parte dos meus colegas e superiores hierárquicos como por parte dos cidadãos. As menos agradáveis foram aquelas em que vi determinados criminosos saírem impunes dos Tribunais, quer pelo facto de a responsabilidade ter sido da Polícia ou da Justiça.
Mestrado e projetos futuros
O – Está a frequentar o 2.º ano do Mestrado em Ciências da Comunicação – Relações Públicas e Publicidade. Por que decidiu tirar este Curso?
JD – Queria acrescentar algo mais à Licenciatura e também porque queria adquirir mais conhecimentos na área das Relações Públicas.
O – Quais são os seus projetos para o futuro, em termos profissionais, depois de concluir o Mestrado?
JD – Tenho alguns projetos, no entanto, têm-se esfumado, devido ao estado do país e a outros fatores internos dentro da Instituição que sirvo.
“Benfica até que a morte me leve”
O – O que gosta de fazer nos seus tempos livres?
O – O que gosta de fazer nos seus tempos livres?
JD – Gosto de estar com a família, praticar desporto (andar de bicicleta e jogar futebol), caminhar pelas montanhas e pescar.
O – Que tipo de leitura gosta de fazer?
JD – Não gosto muito de ler. Gosto mais de conviver com as pessoas e desenvolver atividades ao ar livre. Contudo, quando leio, as minhas opções são Miguel Torga, Moita Flores, Saramago e alguns jornais como “A Bola”, “Expresso” e “Sol”.
O – Qual é o tipo de música que gosta de escutar?
JD – Pink Floyd, Beatles, Led Zeppelin, U2, Seal, Amália, Marisa, Ana Moura, Beethoven, Strauss, entre outros.
O – A que tipo de filme gosta de assistir?
JD – Comédias, ação e ficção.
O – Tem algum programa televisivo favorito?
JD – Todos que estejam ligados a atividades desportivas, informação e reportagens sobre a vida selvagem como, por exemplo, as da “National Geographic”.
O – Tem algum atleta preferido?
JD – Carlos Lopes e Rosa Mota, pela sua determinação; Eusébio, pela sua qualidade enquanto futebolista e pelo ser humano que é; a minha filha Catarina, que é Campeã Distrital e Regional de Trampolim, Mini-trampolim e Duplo-mini-trampolim.
O – É simpatizante de algum clube desportivo?
JD – Do Benfica, até que a morte me leve.
O – Qual foi o melhor momento da sua vida?
JD – O nascimento das minhas duas filhas.
O – E o momento mais triste da sua vida?
JD – Foi quando perdi os meus pais. E também um amigo, o que infelizmente ocorreu muito recentemente.
O – O que mais aprecia numa pessoa?
JD – A sua sinceridade e lealdade.
O – E o que menos aprecia numa pessoa?
JD – O contrário do que referi anteriormente e a hipocrisia.
O – Como se descreve a si próprio?
JD – Sincero, leal e rigoroso.
O – Considera-se uma pessoa feliz?
JD – Considero, porque tenho uma boa família, poucos mas bons amigos, saúde e trabalho.
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